segunda-feira, 18 de abril de 2011

A Filosofia da História e a astúcia da Razão em Hegel

Por João Francisco P. Cabral - Colaborador Brasil Escola -
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP



A simples constatação ou fé de que a Razão governa a História é a motivação da pesquisa de Hegel em sua “Filosofia da História”. E o fim último dessa Razão é a sua realidade concreta, ou seja, o Estado.

No percurso do que Hegel chama de história filosófica, em virtude da concretização da Razão, ele percebe os grandes momentos em que o Espírito Absoluto, com sua qualidade intrínseca ou fim em si mesmo que é a liberdade, lutou para superar a si mesmo num movimento contínuo e progressivo (progresso da consciência humana). Esses momentos são especiais porque revelam o que há de potencial em cada ato do ser humano (no caso aqui, o homem histórico). Enquanto ser dotado deVontade e paixões particulares, buscando atingir seus interesses próprios, os homens vão, através desses momentos, superando e suprimindo as suas necessidades imediatas. Mas o fim de cada ação particular contém também um objetivo geral, segundo Hegel. E quando uma ação se une à outra e a partir de um indivíduo é expressa, carrega em si toda a realização e transformação necessárias em cada época.

Um indivíduo comum tem suas necessidades imediatas, seus interesses próprios, suas paixões, etc.; visa, portanto, em cada ato voluntário, suprimir tais necessidades, interesses e paixões. E embora seus atos particulares contenham potencialmente o que há de universal, eles não conseguem ou mesmo não querem realizá-los, ficando satisfeitos com o que conquistaram para si. Já os grandes indivíduos históricos universais, homens que compreenderam seu tempo, aproveitaram a oportunidade, contrapuseram-se e superaram as leis e os direitos estabelecidos vigentes em sua época. Estes homens, também com suas paixões particulares, uniram em ato essas paixões e o potencial da universalidade (da vontade geral) nelas contidas, expressando a antítese que é o meio necessário para a transformação de sua realidade, que, por sua vez, sintetiza o interesse da Razão. Mas, apesar de sua grandeza e ao contrário dos indivíduos comuns, não foram homens felizes. Mesmo inconscientes da ideia diretora, foram homens excelentes (históricos) porque edificaram partes importantes da História Universal que é, para Hegel, o progresso na consciência da liberdade.

Se, portanto, para Hegel a Razão governa a História e os indivíduos são dotados de uma capacidade de realizar os interesses de suas paixões, aliada ao universal, sendo este o resultado da atividade particular e de sua negação, pode-se questionar como se dá a relação do particular com o universal. Na ação de um indivíduo (o histórico universal), a relação entre interesse particular e o universal é inseparável e se dá por participação. Significa que este indivíduo se expõe aos perigos gerados por sua ação e se desgasta nos conflitos de oposição, enquanto agente privado, e que a ideia, que é o universal, mantém-se ilesa, intocável. É o que Hegel denomina de “Astúcia da Razão”.

A Astúcia da Razão consiste em salvaguardar a ideia, permitindo que as paixões atuem por si mesmas, experimentem perdas e danos para que nessa luta e nessa perda sempre sobressaia algo, sempre exceda algo positivo, afirmativo. É o preço do sacrifício pela progressiva consciência da liberdade e que justifica as ações dos grandes homens não só de imediato, mas em toda a História.

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